O presente opúsculo reúne vinte e três sonetos inéditos que, visivelmente, Norberto de Balmoral concebeu na continuidade de O êxtase da perversidade. Prosseguindo na sua denúncia do mal, patente na inversão irónica do próprio título cuja expressão se aplica habitualmente a Deus , Balmoral mergulha nas profundezas opacas da natureza humana, desvelando-lhes os movimentos sensíveis na estreita relação que eles estabelecem com as realidades de ordem espiritual, e cujas manifestações o erotismo expressa em toda a sua dimensão ao mesmo tempo subtil e complexa. Nesta perspetiva, é particularmente reveladora a ordem, muito obviamente não cronológica das composições, com que, de forma consciente e intencional, Balmoral estrutura esta pequena obra: é inegável, de facto, a progressão que existe entre os primeiros sonetos, que se caracterizam pelo recurso a uma linguagem por vezes grosseira e até vulgar, incidindo na descrição de uma realidade quase sempre de natureza carnal, e os últimos, em que esses recursos linguísticos desaparecem, e nos quais as realidades retratadas se inscrevem numa dimensão exclusivamente espiritual, passando por um conjunto de sonetos intermédios em que já não constam as características linguísticas dos primeiros e em que surgem combinações de aspetos carnais e psicológicos a caminho do claro domínio do espírito que se constata nos últimos.