O sensível impõe à história ao menos duas questões. A primeira delas diz respeito ao caráter estético da própria escrita ou narrativa histórica. Esse debate não é novo e está presente de maneira bastante explícita desde Hayden White. Para Roger Chartier, “Narrativas de ficção e narrativas de história têm em comum uma mesma maneira de fazer agir seus “personagens”, uma mesma maneira de construir a temporalidade, uma mesma concepção de causalidade”. A impossibilidade de uma linguagem neutra implica, de imediato, que a estética da historiografia produz consequências interpretativas à sua recepção. A segunda razão é que a História, desde a Escola dos Annales e, antes disso, desde a própria História da Arte, tem se dedicado a objetos cujo caráter estético se sobrepõe ao caráter informativo e textual dos documentos tradicionais, exigindo do historiador outras chaves interpretativas. Assim, o caráter sensível da arte, como ficou claro à Burckhardt, por exemplo, exige do historiador uma aproximação mais íntima e menos distanciada. Refletir sobre a temporalidade dos objetos que atingem tanto o intelecto quanto a sensibilidade, os afetos e as emoções é tarefa arriscada que seduziu o autor e as autoras dos artigos que compõem esse livro.