Vivemos, hoje, numa sociedade caracterizada, sobretudo, por ter um estilo de vida centrado no consumo exacerbado que é fundamental para a lógica produtivista do capitalismo. Para manter esse estilo de vida, o capitalismo necessita alimentar nas pessoas uma espiritualidade que possibilite a elas uma “entrega incondicional” a esse estilo de vida. Renato de Lima da Costa neste livro – A espiritualidade do consumo e o consumo da espiritualidade – enfrenta o desafio de examinar em profundidade essa espiritualidade em diálogo com Gilles Lipovetsky que, em sua obra, A felicidade paradoxal, investiga em profundidade os mecanismos do hiperconsumo e as artimanhas da “espiritualidade do consumo”. Além disso, o autor dá um passo além ao problematizar aquilo que ele denomina de “consumo da espiritualidade”, uma dinâmica frenética de consumidores que procuram, nas diferentes espiritualidades disponíveis no mercado, extravasar a sua ânsia de felicidade orientada pelo consumo. O livro que temos em mãos é uma obra original porque examina, em detalhes, como o capitalismo, prescindindo da religião para se autojustificar nos tempos modernos, constrói, no entanto, uma espiritualidade para manter acesa a lógica do consumo exacerbado. É também uma obra relevante que nos permite descobrir como estamos envolvidos nessa lógica consumista pautada pela espiritualidade do consumo e como se pode reagir a ela.
A ESPIRITUALIDADE DO CONSUMO E O CONSUMO DA ESPIRITUALIDADE
Renato de Lima da Costa
A espiritualidade do consumo e o consumo da espiritualidade é um estudo da cultura de consumo na contemporaneidade a partir do pensamento de Gilles Lipovetsky, filósofo francês que se propõe a estudar questões contemporâneas mais específicas, como a moda, o luxo, os hábitos de consumo, a moral, entre outros temas. As análises do autor fornecem elementos que permitem constatar a presença de uma espiritualidade do consumo circundando as mais variadas relações que se dão no universo das múltiplas ofertas para as compras veiculadas sempre com promessas de conforto, bem-estar e perpetuação da felicidade, bem como nas motivações e finalidades para o consumo nos constantes engajamentos para as compras dos indivíduos. Sendo este último aspecto um elemento de fundamental importância para a compreensão dos movimentos que se dão no âmbito dos mercados de consumo na contemporaneidade,bem como das particularidades desta cultura de consumo, um recuo histórico em busca das raízes da espiritualidade do consumo é também apresentado no escopo deste texto a fim de demonstrar em que contexto se deu uma primeira intuição em relação a um elemento para além das próprias funcionalidades presente nas mais variadas mercadorias. Por fim, após este percurso, a pesquisa trata também de uma análise de um processo de consumo da própria espiritualidade como mais um reflexo da cultura de consumo na contemporaneidade.Assim, será possível perceber que condutas religiosas individualizadas, valores éticos pós-moralistas, motivações para o trânsito religioso pela insatisfação de anseios subjetivos, bem como o aparecimento de novas possibilidades de experiências religiosas, todas elas centradas no indivíduo como cliente a ser servido, são tendências atuais que refletem a imposição dos novos imperativos de vida do consumo se fazendo presentes também nesta esfera de vida dos indivíduos.
Wagner Lopes Sanchez
Doutor em Ciências Sociais e professor no Programa de Estudos
Pós-Graduados em Ciência da Religião da PUC-SP.