Rui Lincato, ambicioso político em campanha eletiva, é vítima de extorsão por parte de amante do pai homossexual e professor universitário aposentado. O chantagista é eliminado pelo assassino profissional conhecido apenas por Tom – mas o trabalho não para por aí. Tom é designado como acompanhante do velho catedrático a férias forçadas ao litoral e o que prometia ser apenas um passeio onírico resulta em formidável banho de sangue. Eis um trecho da história:“Eu havia resolvido passar o resto da tarde estudando os movimentos do empresário, por isso parei a moto em frente de sua residência de jardim talvez planejado por algum paisagista de renome. Um carro Nissan com duas mulheres passou por mim, uma delas havia trocado a fralda da criança em seu colo, lançou o embrulho pela janela e me atingiu o capacete – fezes liquefeitas, amarelo-mostarda, escorreram por minha jaqueta e pela calça à altura das coxas. Fiquei puto da vida, vai ver aquilo era um aviso agourento. A solidão do lugar era total, não havia passarinhos nos fios elétricos nem cachorros vadiando pelas calçadas. Então a chuva caiu, assim, de repente. Com a intenção de limpar-me fiquei mais de cinco minutos sob a chuva braba, torrencial, tão intensa que no chão logo se formou uma enxurrada grossa, marrom e saturada de detritos a entupir as bocas-de-lobo. Daí aconteceu o mais singular dos acasos: Lívio Ferreira saiu de casa fitando o solo escorregadio e protegendo a cabeça com um blusão de couro. Abaixou-se e pegou na grama encharcada alguma coisa parecida com uma mochila escolar. Eu saquei a arma do cós da calça, tirei o silenciador do bolso da jaqueta, atarraxei-o no cano, tudo isso em átimos. Assim que o empresário se aprumou, viu a pistola apontada em sua direção; abriu a boca, tomado pelo susto, e, antes que emitisse qualquer ruído, abati-o com três tiros, todos direcionados à cabeça. E caí fora dali o mais rápido que pude. A chuva aumentara de intensidade, se é que seria possível. Talvez fosse apenas por causa da adrenalina tomando meu corpo, do asfalto coberto pela enxurrada, sei lá, talvez fosse um cálculo ilusório do meu cérebro – de qualquer forma eu tinha a impressão que jamais vira em minha vida uma chuva tão forte.”