Em Mochilas Brother nos convida a palmilhar a narrativa de sua grande aventura através da Europa (que inclui a passagem pelo Marrocos). Narrativa que me lembra um tanto os romances do finlandês Mika Waltari (O Egípcio, O Aventureiro, O Anjo Negro), e outro tanto as narrativas das viagens dos europeus ao Novo Mundo no séc. XVI, como as de Hans Staden e Jean de Léry, essas últimas lidas a contrapelo: é um latino-americano que nos descobre a Europa numa época que não está longe do auge do movimento hippie. Assim, veríamos o Brother amante-latino, o Brother squatteur, o Brother vendangeur, o Brother artesão, mas sobretudo o Brother mochileiro, cujo testemunho se daria a ler pelas histórias narradas, mas não só: seria também nos silêncios da narrativa, assim me parece, naquilo que ela não diz, que Brother convoca o leitor a refletir sobre sua façanha: acompanhado ou sozinho, cruzar tantos territórios, conhecer quantas pessoas, suportar tantas temperaturas e temperamentos inóspitos, conviver com tantas línguas e culturas diferentes: saborear na boca a ausência da palavra necessária, e viajar a partir do corpo, “em grande estilo” – pois pegar carona de baixo-astral é mais difícil. E é daí que brinco, a arriscar uma inversão pessoana: tudo vale à alma se a pena não é pequena – e o leitor há de saber que os plumeaux escrevem brincos, quando da possibilidade de limpeza consegue-se entrever o desejo de beleza. Por essa via, o c’est fini aponta para a ponte das arábias de um novo livro que cruzasse a “Nossa Bagdá” do Arnaldo Antunes. Mas isso já seria um furo e tanto! Por ora, fiquemos na expectativa libertária, e quiçá alvissareira, do que sai de Mochilas.
Carlos BatistaMestre em Estudos Literários pela UFMG