Publicado há 156 anos, este breve ensaio de Lord Acton continua a ser uma das máximas referências a quem se dispõe a estudar ou discutir seriamente o fenômeno da nacionalidade e do nacionalismo como entidades congêneres. Lord Acton, este intelectual inglês que viveu entre dois séculos (o XIX e o XX), pôde entender como poucos os problemas políticos que afligiam sua época e as implicações futuras que eles acarretavam. Denunciou com denodo as injustiças fragrantes cometidas pelas grandes potências no Congresso de Viena –– que após a queda de Napoleão, se comprometeram a reorganizar a geopolítica europeia. E nesta empreitada, as potencias reunidas cometeram grandes injustiças como, a cruel divisão do território polonês entre os vencedores. Mas Acton, além de suas denuncias, apontou os pontos fracos e fortes dos mais esplendorosos impérios da época: o austro-hungaro, o russo e o britânico. E apontou ainda a fragilidade das previsões dos estadistas perante os rumos sempre incertos e imprevisíveis da história. A sociedade da época não imaginava que naquele ensaio publicados por um velho lord inglês, estariam os temas fundamentais dos dois maiores conflitos bélicos da história: a I Guerra Mundial e a II Guerra Mundial. Em algumas partes, encontramos de certo modo implícito a antecipação dos conflitos mundiais que se seguiriam, e ainda uma sutil previsão dos horrores do nazismo. Em um trecho, ele escreve:A maior adversária dos direitos de nacionalidade é a moderna teoria da nacionalidade. Ao fazer o Estado e a nação coincidirem uma com a outra em teoria, se reduz praticamente à condição de sujeito todas as outras nacionalidades que podem existir dentro das fronteiras. Não se pode admiti-los a uma igualdade com o líder da nação que constitui o Estado, porque o Estado deixaria, então, de ser nacional, o que seria uma contradição do princípio da sua existência. Portanto, de acordo com o grau de humanidade e civilização que existe no corpo dominante que reivindica todos os direitos da comunidade, as raças inferiores são exterminadas, ou reduzidas à servidão; colocadas fora da lei ou deixadas em condição de dependência.Acton, conforme se diz, era um homem a frente do seu tempo, e quem sabe, até a frente dos nossos. Portanto, lê-lo é uma forma de proteção contra velhos erros. O leitor mais conservador, naturalmente, se incomodará, em certas partes, com uma visão anticlerical, em outras, antinacionalista e antimonárquica, mas no geral, ficai com o bom e velho conselho de São Paulo: “examinai todas as coisas, e ficai com o que é bom” (I Tess 5, 21).