Uma fantasia com pinceladas rurais, folclóricas, religiosas e científicas. Versa sobre o secular conflito entre Ciência e Religião na figura de um velho astrônomo, Prof. Adalberto Joseph Santini, e o clérigo de uma igreja do interior paulista, padre Josué. Entre esses dois, Maria Ângela Pinheiro Coutinho, professora de Astronomia e amiga do Prof. Santini, personagem destinada a protagonizar um evento de profundas repercussões.Trecho:"... Aos olhos do noviço, aquele velho desgrenhado e cego mais parecia um diabinho vermelho, um verdadeiro demônio armado de tridente, cutucando, provocando, instigando, procurando trazer a tona o lado negro das pessoas. Censurou-se por isso, porém, não de todo, observando chocado o estado alterado de seu superior.A professora também se perguntou onde o astrônomo queria chegar, provocando o padre daquela forma.Dessa vez, o Prof. Santini ultrapassara os limites.Padre Josué perdeu as estribeiras, vociferou, seu bom-humor totalmente dissipado:- Ao longo dos anos eu conheci outros como tu, presunçoso e arrogante pelo acúmulo de conhecimentos, livros e diplomas; achando-te o dono da verdade, e não a nós, como acusas - disse o padre, estreitando os olhos, lábios trêmulos, cabelos negros em desalinho. - Entre eles havia um homem de meia-idade, da cidade grande, formado, com pós-graduação, doutorado, cursos no exterior. Petulante, acreditando-se o portador da sapiência sobre todas as coisas. Veio falar-me com toda a pompa e pedantismo sobre suas certezas e descrenças, com a segurança de quem considerava-se o sabe-tudo, lecionando grandes sabedorias para as massas. Até o dia em que perdeu os filhos em um acidente de automóvel e a esposa, gravemente ferida, lutava pela vida. Então, toda a sabedoria, arrogância e segurança esvaneceram-se. O doutorado e os diplomas de nada valeram. Diante da desesperança do abismo, envolto pela escuridão, sucumbiu ao peso da tragédia. Ajoelhou-se na igreja, chorou feito uma criança e, a seu modo, rezou - talvez pela primeira vez em toda a sua vida. Amargurado, arrependeu-se de tudo de ruim que pudesse ter feito e orou por um milagre. Sim, Adalberto, um milagre! Ele abriu seu coração perante Deus. Felizmente, a esposa conseguiu recuperar-se. A petulância se foi. Tornou-se um homem melhor. Hoje, os dois são fiéis devotos. Hoje, ele reconhece que não passava de um idiota instruído. Hoje, ele desfruta de uma crença maior. Hoje, ele...- Hoje, caro primo, ele deixou de ser um idiota instruído...- Isso mesmo!- ... Para se tornar apenas um idiota!Nem mesmo Maria Ângela se conteve. Gritou, levantando-se:- Professor!O sacerdote também havia se levantado. Erguera-se com tamanha violência que o espaldar ornamentado da cadeira balançara para trás, não obstando o móvel fosse pesado. O crucifixo em sua cintura chacoalhou.- Vade retro...Ora, seu calavera, seu mald... - Padre Josué engoliu em seco; fez um esforço sobre-humano para não prosseguir, apertando forte uma mão contra a outra, junto aos lábios, contendo a explosão emergente. - Tu não existes! Deus, daí-me forças para não sucumbir diante do pecado. Por quê? Por quê? O miseras hominum mente... Nesse caso, seu sacrílego, se achas a Santa Madre Igreja tão questionável e seus fiéis tão deploráveis - inquiriu padre Josué, rubro de raiva, apontando o indicador bem próximo ao nariz do primo e não vendo mais qualquer graça na conversa -, por que é que vieste até aqui para me infernizar? E por que é que usas um crucifixo no peito?..."Maiores informações sobre o autor nos sites: Google, Amazon, Efuturo, Conexão Literatura, Marcianos como no cinema.R.Schima - rschima@bol.com.brLeia mais