Quando o jagunço Riobaldo, o narrador-personagem do Grande sertão: veredas,debate-se em sua dúvida ontológica sobre a existência do diabo, umacoisa pelo menos lhe é muito certa: «A vida da gente vai em êrros, como umrelato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria». A vida lhe pareceum teatro, onde ninguém escolhe o papel que representa, e assim ele está unidopelo mesmo destino a Agamêmnon, a Abraão e a tantas outras personagensque as narrativas civilizacionais escreveram. As amostras culturais de Atenas ede Jerusalém também são representadas no sertão de Guimarães Rosa, e estejuntamente com Ésquilo e com o autor do Gênesis, testemunha esta formamuito peculiar de compreender o nosso lugar no mundo. Matar a filha Efigêniapara poder vingar o rapto de Helena, sacrificar o filho Isaac para dar prova defidelidade a Deus e entregar-se à jagunçagem para livrar o sertão dos hermógenes,todos são «ecos do trágico» que os colegas Bernardo e Ramon tambémtestemunham neste livro.