“Ninguém jamais viu a Deus. O Filho unigênito que está no seio do Pai no-lo revelou[1]”. Assim, o divino é indizível e incompreensível. “Pois ninguém conhece o Pai a não ser o Filho, e ninguém conhece o Filho senão o Pai[2]”. E o Espírito Santo conhece as coisas de Deus como o homem conhece as coisas do homem[3]. Segundo sua natureza primigênia e bem-aventurada, ninguém jamais conheceu a Deus, senão aqueles a quem ele próprio se revelou, não apenas dentre os homens, mas mesmo dentre as potências hipercósmicas, dentre elas os querubins e os serafins.
E entretanto Deus não nos deixou na total ignorância; pois o conhecimento de que Deus existe foi naturalmente semeado por ele em todos. Ademais, a própria criação, sua coesão e sua governança proclamam a magnificência da natureza divina. E pela lei e os profetas, primeiro, e depois por seu Filho único, nosso Deus e nosso Salvador Jesus Cristo, segundo aquilo que nos é acessível, Deus deixou claro o conhecimento de si mesmo. Assim é que nós aceitamos, conhecemos e veneramos – sem tentar conhecer mais além – tudo o que nos foi transmitido pela lei, pelos profetas, pelos apóstolos e pelos evangelistas. Pois, sendo bom, Deus é o doador de todo bem, isento de necessidade e de qualquer paixão que seja, pois “a necessidade está incomensuravelmente afastada da natureza divina, que é impassível e a única boa”. Em conclusão, como ele sabe tudo e toma o cuidado de buscar para cada um aquilo que lhe é mais benéfico, ele nos revelou tudo o que é útil que conheçamos, mas não o que somos incapazes de entender. Quanto a nós, contentemo-nos com essas coisas, e conservemo-nos assim, sem tentar franquear os limites eternos[4] nem transgredir a tradição divina.