No século XX, a teologia natural ganhou um enorme reforço com o advento da cosmologia do Big Bang e suas implicações teológicas. Na escolástica árabe medieval, denominada kalam, al-Ghazali desenvolvera o argumento que buscava demonstrar a existência de Deus a partir do fato de que o universo tivera um início. Até então, tratava-se de especulação filosófica até que a fascinante história da cosmologia do século XX por fim ratificou o modelo cosmológico de George Lemaître: o universo teve um início.
É na sua obra The Kalām Cosmological Argument, de 1979, que William L. Craig vai retormar o argumento de al-Ghazali aplicando-lhe o reforço da cosmologia moderna. Neste trabalho, apresentamos o argumento conforme exposto por Craig, mas não sem antes avaliarmos as raízes históricas do argumento na escolástica árabe e, também, narrarmos a história do desenvolvimento da cosmologia do Big Bang.
Espero, com isso, que o leitor aprecie o trabalho e se motive também a entrar nesse terreno e colocar a sua mente a serviço do Reino de Deus. Este trabalho ainda tem o seu valor, dado que, até onde me consta, não há nada publicado por autores brasileiros na área de teologia natural. Assim, essa pesquisa pretende trazer ao público brasileiro algo do que se tem discutido no campo da filosofia analítica da religião. Será analisado o ressurgimento do teísmo filosófico nas discussões acadêmicas da filosofia analítica que tem ocorrido desde o final da década de 1960. Como fruto desse ressurgimento do teísmo na filosofia analítica, ocorre também o retorno da teologia natural e seus tradicionais argumentos para a existência de Deus. Desses, será analisado aquele que podemos seguramente apontar como o mais sólido argumento para a existência de Deus, o argumento cosmológico kalām, cujas origens remontam ao teólogo alexandrino do século VI João Filopono, tendo recebido sua presente forma na escolástica árabe medieval. Sucintamente, o argumento busca inferir a existência de Deus a partir do fato de que o universo teve um início.