Numa cidade do interior, os diferentes tempos da vida de Sebastiana se conectam. Quando menina, ela desenvolve o amor por um menino que deixará marcas para toda a vida. A mãe ajuda Sebastiana a cuidar do filho nascido dessa relação. Já velhinha, Sebastiana observa pelas janelas as mudanças na rotina da cidade pacata, enquanto espera a oportunidade de resgatar o vestido amarelo e florido guardado para uma ocasião especial.
“Dona Sebastiana espera o neto mais novo sair para o trabalho, vai ao quarto e abre o guarda-roupa. Retira uma caixa lá do fundo. O vestido, amarelo e com flores quase transparentes bordadas na barra, ainda lhe cai bem, mesmo com a leve curvatura do corpo. Vestida, ela se olha no espelho e sorri. Seu sonho é que o vestido tenha seu dia e possa então descansar na caixa, dessa vez lacrada com fita vermelha. Não hoje, e sobre seu corpo volta a se assentar o vestido ocre, puído e confortável, após anos de adaptação aos seus moldes de velha.Ela fecha o portão e caminha devagar rua acima. Ela olha para todo lado, mas não vê o que veem os meninos que rabiscam de giz a calçada e o que não vê o cego sentado próximo à porta da igreja, as moedinhas a tilintar na caneca fazendo as vezes do sino, quebrado há anos, e sinalizando que a missa logo se inicia. Dona Sebastiana volta a ser uma menina. Para ela, o sino ainda toca e, quando isso acontece, uma mão segura a sua com mais força, respondendo ao som grave. (…)”
Este conto faz parte da Coleção Identidade. Saiba mais em www.amazon.com.br/colecaoidentidade