O historiador alemão Eric Voegelin (1901-1985) ficou conhecido principalmente por seus estudos em história e ciência política, que culminaram na monumental série Ordem e História, no qual ele persegue o caminho das transformações espirituais da humanidade em busca de restaurar o sentido das experiências do seu presente histórico. Contudo, as experiências vivenciadas por Voegelin nos eventos do século XX, inclusive sua perseguição política e fuga em seu país natal, a ascensão dos regimes totalitários, a deterioração da linguagem e a perda da substância da racionalidade da ordem, causadas pela emergência social de uma nova classe média massificada e apolitizada, também marcaram a obra do historiador. Os movimentos intelectuais e de massa de seu tempo são para ele uma consequência da perda da capacidade de raciocinar logicamente, manifestada pela separação entre linguagem e realidade, o que inviabiliza a discussão racional de questões de ordem social, levando a fenômenos pneumopatológicos de perda da realidade. Dessa maneira, uma das tarefas visualizadas por Eric Voegelin é resgatar a realidade dos símbolos de experiência, tais quais a linguagem, como forma de combater a massificação social, mitigar o divórcio entre linguagem e realidade, e proporcionar um logos para a existência humana. Dentro desse escopo, Voegelin tenta diagnosticar os fenômenos modernos de massificação recorrendo às formas de alienação já existentes na antiguidade clássica, no estoicismo e no Velho Testamento (allotriosis, amathia, nabalah), e também forja seus próprios tipos livremente baseando-se na literatura de Flaubert, Robert Musil, Heimito von Doderer e Albert Camus. O objetivo deste trabalho é expor a concepção de Eric Voegelin sobre esses fenômenos e a necessidade de resgatar o sentido dos símbolos da experiência frente aos perigos existentes ao ideal democrático, manifestada ao longo de toda sua obra, com auxílio do pensamento de seus contemporâneos que trataram o mesmoproblema.