“Penso demais e isso me pesa demais. Tento visualizar meu interior, interpretá-lo. Cultivar o sentir-se. Sinto algumas coisas desmedidamente, volúpia extrema de lembranças que parecem ser, inconscientemente, cultivadas em estufa. Profundamente sentidas. Ao ponto de tentar fazer do sonho a própria vida.
Torno meus sentidos recebedores tangíveis até mesmo de uma brisa que bate. Instintos conscientemente aflorados, virados para o externo. Faço isso no intuito de despontar de forma exasperada e descontrolada a capacidade de sentir.
Extraio do mundo externo a matéria prima que uso para produzir internamente o gozo de sensações que ascendem para o clímax. Na certeza do prazer fugidio, absorvo angustiosamente a sensação complexamente atingida. Entrego-me a uma espécie rara de sentir, desfiado e tecido de tal forma que o mundo inteligível nunca poderá me ofertar.
Tal cenário construído em meu interior torna-me refém dessas requintadas inexatidões. Obsessivamente, sigo analisando o que o ambiente externo me provoca internamente afim de alcançar o inatingível, o dar-se a si de forma plena e absoluta.”