A escrita como ação poética: autenticidade empírica e ruptura provocativa na obra de Jefferson Ferraz.
Apresentar a obra do amigo e escritor Jefferson Ferraz é uma intensa, e, satisfatória incumbência. Não somente por sua distinta escrita poética e densa, já que o autor igualmente destaca neste livro que não há constrangimento em sua vida, vida vivida de e para sentir o que aflora na pele – as transformações-. Ilustra nestas páginas determinado desprendimento em meio às mudanças e aos rompimentos, vejo que o poeta Jefferson Ferraz permite-se e deixa a porta aberta ao desconhecido, nos concede a leitura de suas letras, folhas que traduzem suas antigas e novas percepções. Vivendo as contradições em seu favor ou contra o seu tempo, Jefferson provoca, instiga com palavras vinculadas ao misticismo ou laicismo… Atitudes coerentes e provenientes de um ser humano indefesso que já cruzou o deserto do Atacama; escreveu poesia nas paredes atinentes ao Bar do Cardoso (ponto de encontro da diversidade cultural em Curitiba no emblemático final dos anos 80) e que satiricamente declamou poesias em conversas com Paulo Leminski e Arnaldo Antunes.
Em 2017 sua literatura amplifica-se, nestes textos do livro Rasgo, Jefferson Ferraz, demonstra como forma de representação aquilo que existe entre a figuração e o figurado, e a possibilidade de que as experiências neste mundo estejam relacionadas, apresenta-nos como estão colocados os elementos de figuração em nossas variáveis concepções de realidade. Os escritos pertencentes à obra Rasgo desse modo, uma vez que são expressões, suas sentenças possuem forma de realidade própria que figuram e se manifestam.Rasgo compartilha alguns sentidos, o versado e o somente imaginado… Conta histórias exercendo o amor, felicidade, a paixão e as anátemas. É uma coragem visceral sem violência, uma força sem dureza, um amor sem cólera… Algumas vezes permeada de angustia e de sofrimento, às vezes iluminada de euforia e de gratidão, mas sucessivamente desprovida de ódio, de dureza e de insensibilidade.A poesia, embora em escrita possa afigurar alguma realidade, ela é capaz, por si, de representação atemporal. Ler as poesias do Jefferson é aceitar o convite para vivenciar sensações. Situações serenamente semelhantes a ingerir um gole de chá que pode causar múltiplas provocações, perceber algo peculiar que está presente de modo singular dentro de cada pessoa.