Em Quarto de Despejo: Autoficção e o Mito do Escritor discutimos o conceito de autoficção, termo utilizado pela crítica literária para designar o fragmento que separa o empírico do imaginário no texto autobiográfico. Essa linha tênue atua como máquina produtora de mitos do escritor, assim interpretada por Diana Klinger (2006). Nessa perspectiva, abordamos a construção da performance do autor, analisando a obra Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960), de Carolina Maria de Jesus, buscando identificar possíveis elementos corroborativos de que essa obra se comporta como autoficção, no que tange o mito do escritor. Além do prisma científico, apresentamos um conto intitulado “Carolina”, em homenagem a autora de Quarto de Despejo, a qual nos encantou ao demonstrar ter a dádiva de, sensivelmente, transformar dores em poesia, pelo seu fascínio e amor à Literatura, espaço que se tornou o trilho por onde a voz de Carolina percorre o mundo, isso nos permite concluir que o Criador atendeu ao seu pedido: “Eu estava sentada ao sol escrevendo e supliquei, oh meu Deus! Preciso de voz” (JESUS, 1996, p. 152).