“Apresentado pela primeira vez “na cidade de Lisboa, nos paços da Ribeira, em a noite de endoenças; era do Senhor de 1518”, ou seja, há exatos quinhentos anos, o Auto da Alma representa a peregrinação da Alma em busca de seu sentido. Peregrinação incerta, a começar pela própria data — grafada originalmente como MD&VIII, ou seja, 1508, mas depois corrigida por vários estudiosos da obra vicentina para dez anos depois — porque há controvérsia em relação à referência à “noite de endoenças”, que alguns pensam referir-se à Quinta-Feira Santa, outros ao próprio Domingo de Páscoa. De uma forma ou de outra, aparentemente a peça foi representada por volta do dia primeiro de abril de 1518, e a aproximação dessa efeméride me inspirou a produzir uma performance que atualizasse a peça de Gil Vicente e tentasse responder à pergunta: o que sobrou da Alma quinhentos anos depois?O texto que se apresenta a seguir foi lido integralmente no Terreiro do Paço, diante do Complexo Ministerial, onde há quinhentos anos ficavam os “paços da Ribeira”.”