Desde que Betz analisou a carta de Paulo aos gálatas a partir das categorias da retórica aristotélica clássica, considerando a epístola uma “carta de gênero apologético”, diversos outros estudos seguiram o mesmo rumo e submeteram as cartas paulinas aos mesmos crivos. O sitz im leben judaico do apóstolo foi substituído por diversas teorias sobre a influência do mundo greco-romano, procurando encontrar nas literaturas e religiões pagãs do primeiro século as fontes que influenciaram não somente a teologia, mas também a retórica das cartas de Paulo. Contudo, toda a biografia disponível sobre o apóstolo Paulo, tanto em Atos dos Apóstolos quanto nas cartas paulinas, descreve-o como legítimo judeu de origem tradicional, ex-membro da seita judaica mais rigorosa (seita dos fariseus), de origem, estudo e conhecimento judaico. Em Gálatas, Paulo escreve sobre uma controvérsia judaico-cristã, a fim de resgatar os destinatários da apostasia enquanto acusava os judaizantes de enganar os cristãos ao obrigarem-nos a guardar a Lei mosaica. Dessa forma, o ambiente da carta gira em torno do judaísmo, principalmente do Antigo Testamento, para o qual Paulo recorrerá tanto com respeito à teologia quanto fazendo uso de sua retórica.Tendo em vista que o problema gira em torno do entendimento do Antigo Testamento, o apóstolo demonstra sua habilidade no manuseio da literatura Sagrada e do conhecimento adquirido na escola de Gamaliel. Essa habilidade é demonstrada também no uso de estilos retóricos judaicos comuns ao Antigo Testamento, fonte primária utilizada pelo apóstolo para combater seus adversários e ensinar aos cristãos a relação de continuidade entre a antiga e nova aliança. Tendo a carta aos gálatas numa mão e o Antigo Testamento na outra, sugere-se que Paulo foi influenciado pelo estilo retórico do Antigo Testamento, tão presente na mente do apóstolo que as estruturas surgem naturalmente, moldando a construção de suas ideias em todas as três divisões da carta (Gl.1-2; Gl.3-4 e Gl.5-6).