Quando eu era muito jovem, no início da carreira, uma das maiores preocupações dos educadores — e meus pais — era em relação ao uso de calculadoras nas escolas, e como isso iria afetar a educação, uma vez que a facilidade de fazer cálculos era tanta que o tradicional método, de cálculo mental ou mesmo braçal, estava sendo ameaçado.Mas será que hoje não vivemos uma realidade ainda mais complexa, pois, por mais paradoxal que pareça, a própria calculadora está ameaçada, quanto mais o de cálculo mental e braçal?E essa realidade é essencialmente impactada pelo avanço da Inteligência Artificial, principalmente do Machine Learning, onde cada vez mais as máquinas fazem os cálculos e criam modelos, programas e setups para as pessoas, a ponto de uma calculadora ser, em tese, cada vez mais desnecessária, principalmente nas organizações.Mas será que esse é um caminho correto? Será que de fato devemos terceirizar o cálculo mental e braçal?Acredito que não, pelo menos totalmente, e, mais ainda, que existe um erro de percepção da interação de pessoas e máquinas, em termos de potencial de aprendizado e inteligência aumentada.Assim como nossas crianças precisam aprender a fazer cálculos mentais e braçais, os profissionais precisam manter suas habilidades e domínio de processos, não atuando apenas como gestores de máquinas. Pois se não fazemos isso, perdemos o convívio com os problemas em sua essência.Mas como fazer isso, atendendo o paradoxo de ser mais produtivo, sem perder a essência do conhecimento?Simples, tanto em sua vida pessoal, como nas organizações, me parece que o ideal é manter células de aprendizado onde a inteligência e aprendizado das pessoas seja tão valorizado como o das máquinas.Pois se deixarmos apenas as máquinas fazerem o que elas fazem melhor que as pessoas, em breve perderemos a essência lógica de muitas coisas, por falta de prática e experiência, correndo o risco de perder o elo de evolução de muitas coisas.Além disso, corremos o mesmo risco das crianças de perder a essência do conhecimento, dependendo cada vez mais de outros — inclusive das máquinas — para tomar decisões, o que pode nos conduzir ao que não raro acontece na área de computação: a volta ao passado, para corrigir os erros do presente.Na verdade, considero que mais relevante que pensarmos na inteligência individual, é pensarmos na evolução da inteligência coletiva para o que defino nesse livro como sabedoria coletiva.E a sabedoria coletiva, como veremos nesse livro, é a base para a nossa evolução, coletiva.