O modo de pensar o fazer, que orienta a criação da prosa poética do autor, decorre da prática do automatismo e da valorização do eventos imaginários e espontâneos percebidos nas coincidências na escrita e nas colagens de palavras ligadas por intenções estéticas do autor e orientações filosóficas diversas. Por fim, leitura dos textos desse livro serve de exercício prático para afastar o entendimento lógico racional e positivista da interpretação, para perceber que existe algo entre o é e o não é, que é e não é, algo que não é apropriável, ainda, como linguagem racional sobre a realidade que está aí, acontecendo com tudo ao mesmo tempo. O título escolhido, “Para onde vão os sapatos”, traz implícito o pensamento de que “os sapatos não possuem movimento próprio” e que existe um lugar onde ficam ou são deixados “os sapatos”. Esse lugar pode ser encontrado em cada poema deste livro, mesmo quando o “eu lírico” se revele de meias ou descalço. Anoto, também, que o título poderia ser “Aonde vão os sapatos”, mas a sugestão da imagem de alguém calçado indo ou esperando, que é uma boa sugestão de fotografia, não se adequaria ao jogo estabelecido com existência da figura “sapatos” nos poemas em prosa do livro.