A premissa deste livro não poderia ser mais simples: é uma coletânea de frases aleatórias ouvidas em lugares públicos como ônibus, calçadas, bares, aeroportos e quaisquer outros onde haja seres humanos conversando. Todas foram ouvidas pelo compilador (exceto onde indicado) e anotadas ipsis literis. Mas por que fazer essa coletânea? Ou, melhor ainda, por que lê-la? Acredito que a brevidade e a falta de contexto de muitas delas instiguem no leitor o desejo de saber mais, provocando uma sensação de incompletude que deixa ao leitor a tarefa de preencher as lacunas e interpretar as entrelinhas. Hemingway elaborou sua Teoria do Iceberg justamente baseado no poder da omissão em um texto ficcional, defendendo que se deve revelar apenas a superfície, para que o leitor descubra o que está submerso. Neste Frases ouvidas por aí, a amostra de diminutos retratos do cotidiano – às vezes mais dramáticos, outras vezes dosados de humor e ironia – revela um mundo maior que habita as pequenas coisas, desde que estejamos dispostos a prestar atenção nelas. Diego Lops é escritor e tradutor, autor do premiado livro de contos “Pessoas partidas”.