História brasileira narrando viagem de uma imagem sacra do porto de Salvador ao porto do Rio Grande, em que o mau tempo obrigou o veleiro enfrentar a fúria do mar e ter que arribar na Ilha de Santa Catarina – Vila do Desterro.Uma vez a embarcação no porto e abastecida de víveres e água, sempre que tentava seguir viagem, uma borrasca inesperada se abatia contra à saída da embarcação. Na terceira tentativa, depois de ganharem o oceano, o capitão desesperado por seguir viagem foi surpreendido por uma tempestade inesperada e um motim a bordo, quando os ventos cessaram de maneira brusca e misteriosamente. Ocasião em que os marinheiros descreveram movimentos humanos na imagem do santo a fazer menção de voltar para a Ilha de Santa Catarina onde deveria permanecer. Sem opção alternativa, o comandante dirigiu-se ao porto e foi falar com o governador da província, pedindo a ele ajuda no sentido de que ficassem com a imagem a custo de uma indenização qualquer. O livro trata de toda a saga desta odisséia marítima em que diversos fenômenos aconteceram relacionados à imagem, bem como da ação do governador que sabendo da falta de ofícios sacros e elementos religiosos ao bom termo da demanda católica local, fez uma coleta com ilustres senhores da vila e adquiriu a imagem, indenizando à marinhagem para que voltassem ao porto de origem. O livro é todo escrito em décimas, ou estrofes de dez versos, do cancioneiro ibero-português. Estilo literário criado pelo Rei Trovador Dom Dinis e muito usado por poetas portugueses como Camões. Essas décimas também eram muito familiar aos descendentes portugueses que habitam o litoral catarinense. Foram compostas e declamadas aqui, até meados de um mil novecentos e cinquenta. Porém agora esse estilo está de volta em Portugal, sendo resgatado e ministrado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Eis que aqui no Brasil também se está resgatando o estilo. O livro foi escrito e cedido os direitos de dois mil exemplares à Irmandade do Senhor Jesus dos Passos que existe há duzentos e cinquenta e um anos – dada em que chegou a imagem à Ilha. A procissão do Senhor Jesus dos Passos existe desde aquele tempo e está para receber o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. “Há textos que pedem única leitura e nos damos por satisfeitos, sentimos ter dominado o conteúdo. Há outros textos, porém, cuja leitura exige esforço, perseverança. Mas, Laerte Sílvio Tavares propõe uma charada: seria o SENHOR JESUS DOS PASSOS um poema piedoso? uma estudada peça literária? uma narrativa histórica? um conto fantástico? É tudo isso ao mesmo tempo e, isso chama a atenção, num linguajar popular, atraente e cheio de surpresas poéticas. Com essa obra, o poeta nos possibilita mergulhar em nossa história humana e religiosa, serve-nos um prato com história, religiosidade, alma popular, piedade, convida o povo que sobe a ladeira do Menino Deus para conhecer o que busca no pagar promessas, e convida o mundo secularizado a permitir-se ingressar no mundo religioso de não muitos raciocínios, mas nem por isso privado de verdade que toca o coração. Diante do numinoso cessa a segurança intelectual e brilha mais forte a luz revestida das muitas imagens que atraem e convencem os que a buscam com a mente despida de ilusórias seguranças.O SENHOR JESUS DOS PASSOS é leitura para mais leituras, tem a beleza do cancioneiro popular e a riqueza da história escrita e oral. É trabalho de um engenheiro que sabe fugir dos cálculos para contar uma história simples e verdadeira.Nesse delicioso e belo texto redigido nas populares décimas portuguesas, Laerte nos permite acompanhar alguns capítulos da história desterrense, levando-nos a mergulhar com proveito na saga, cujo centro é Nosso Senhor dos Passos.”Esse texto ente aspas é parte do prefácio do prof., historiador e membro da Academia Catarinense de Letras, Padre José Artulino Besen.