A mãe da Lucília proibiu a menina de ir mais longe do que o rio. Mas a menina tem um livro ilustrado onde ela lê a história de várias personagens que vivem num reino obscuro, chamado o Reino das Trevas, e que ela situa na região que se estende para além do rio, por trás da floresta. Durante onze noites, depois de subir para o quarto, a menina conta à sua boneca de trapos, Lili, a história das aventuras surpreendentes que decorrem nesse reino misterioso. Mas será o mundo da fantasia assim tão diferente do mundo real?… Aviso: leitura não recomendada para velhos em espírito!
No silêncio da noite, uma claridade à janela. Por trás da janela, uma menina solitária. A menina perseguia um sonho tão esguio quanto uma enguia. Mas o sonho, roçando-lhe as pálpebras, esquivava-se-lhe entre os dedos. Lá fora, casas tossiam no nevoeiro. O jardim aplaudia um espetáculo invisível. Verdes, os pinheiros queimavam uma ou outra estrela que se lhes dependurava na crista das copas tremulantes. Um pouco mais abaixo, o rio serpenteava entre colinas e vales, entre esperança e recordação. Mais além, o desconhecido. O reino do príncipe infeliz. O famoso príncipe dos contos de fadas, só que este era um tanto desditoso.O nome do príncipe era um pouco esquisito: Creginaldo. Um nome de cavaleiro andante, ou de traidor. Nesse reino de trevas, havia também um dragão: Cuspe-Fogo.