Sorrir em público era mais do que simplesmente proibido, todos sabiam. Tratava-se de algo execrável e digno mesmo de morte em alguns casos. Também todos sabiam e concordavam. A tragédia com o pequeno Wellington Dias, no entanto, enchera-os de dúvidas e remorso. E foi neste momento de fraqueza que Maicon, um jogador de futebol profissional fracassado, chegou à cidade por acidente com a esposa ensaguentada nos braços. Ele não podia sequer imaginar o perigo que corria ali no meio daquela multidão de rostos extremamente sérios e frios, tampouco o risco que representava para toda a cidade com o seu simples pedido por ajuda. Definitivamente, intrusos nunca eram bem-vindos.
(…) O clima era estranho e pesado. A festa mais parecia um ritual macabro e secreto, algo de séculos atrás. Todos aqueles rostos desprovidos de cor, falando sem alteração e sem sequer o esboço de um único sorriso, sem avermelharem-se por qualquer motivo, eram como subtraídos de um retrato antigo em preto e branco de um funeral movimentado (…)
(…) Ninguém comentava, mas tudo mudara na cidade que não sorri após a tragédia com o pequeno Wellington Dias (…)