Nascido em França, em 1975, de mãe portuguesa e de pai descendente da aristocracia francesa, Norberto de Balmoral viveu a infância e parte da juventude em Paris, instalando-se depois em Cascais, onde se formou em teatro. Ficando paraplégico aos 28 anos após um acidente de viação, consagrou-se a partir daí à pintura e à literatura. Alcoólatra, veio a falecer no Porto, nove anos mais tarde, vítima de cancro. Na sua denúncia do mal, Balmoral não parece visar o erotismo em si, mas, sim, insinuar que este é um dos meios mais acessíveis de que dispõe a realidade do mal para se introduzir na alma humana, possivelmente por nem sempre constituírem as diversas manifestações do erotismo, à luz das leis humanas – à diferença dos crimes socialmente reconhecidos como tais – delitos juridicamente condenáveis. Talvez por ter sido reduzido a viver ele próprio à margem da sociedade, e ter sido um adicto ao álcool, o autor apresenta o erotismo como uma das múltiplas facetas que a alienação pode revestir, seja ela de ordem social ou meramente individual. De facto, neste sentido profundo, a questão vai muito para além da rejeição ou da marginalidade enquanto fenómenos socialmente significativos, mas inclui também toda a sua dimensão interior: a da solidão, da fraqueza, da inquietude, do vício e de todas as formas mudas e mais ou menos visíveis da condição humana. É neste sentido também que qualquer um de nós se pode reconhecer, de alguma forma, no que este conjunto de textos expressa. Pois é a miséria de cada um de nós, as nossas múltiplas prisões interiores que os textos de Balmoral abordam, embora nem sempre se manifestem socialmente. Eis a razão por que a realidade aqui retratada nos soe como um eco apenas distorcido das nossas próprias vivências mais recônditas.
Artur Bolt, 2013