Espero que este livro não seja incompreensível para quem nunca tomou uma planta psicotrópica. É mais fácil perceber aquilo de que falo quando se esteve no universo das visões, mas não quero ficar inacessível ou limitar-me a uma elite. Para resumir rapidamente o que é a Ayahuasca: trata-se de uma bebida ancestral que resulta da associação de duas plantas – a Hoasca, uma trepadeira, e a Chacruna, para um efeito psicotrópico – e que induz visões em quem toma o chá de sabor acre e infame resultante da cozedura das duas plantas juntas durante horas, num caldeirão. As tomas fazem-se numa cerimónia indígena, devidamente enquadrada, para controlar os efeitos e as visões e proteger quem bebe. O xamã canta e usa tabaco (mapacho), folhas (chacapa), água florida e cantos, os ícaros, para nos guiar por uma experiência sem igual no autoconhecimento e na consciência do mundo. Neste livro, retrato o meu percurso de aprendiz de xamã que durou três anos. Viajei muito, interiormente e exteriormente, por isso haverá saltos para diferentes pontos do planeta. Espero não causar confusão ao leitor, mas os percursos raramente são lineares.