No sistema Democrático Representativo em que vivemos, a Democracia não pode ser entendida como o “governo dos cidadãos, pelos cidadãos”. Neste regime, as elites – como sob o Antigo Regime – governam, de facto, em nosso nome, mas não para nós e certamente que não através de nós. Estas elites travestiram-se de panos mais alegres e populares, mas continuam a ser um grupo fechado, que cruza sangue entre si e que partilha uma firme convicção na sua superioridade moral e intelectual sobre a grande massa dos cidadãos anónimos e – teoricamente – dóceis e eternamente manipuláveis. Estas elites políticas, uma vez eleitas e elevadas até posições de poder, assumem-no completamente e de forma imperial, repartindo-o apenas entre si e os seus clãs de dependentes. Dentro dos partidos políticos “tradicionais” (com assento na Assembleia da República) esta tomada de poder é aplicada em nome dos cidadãos que os elegeram, mas rejeitando de forma muitas vezes ativa, e numa aparentemente, a sua participação. Os “duques” (federações distritais), “condes” (concelhias) e “barões” (secções e núcleos) dos partidos políticos tradicionais são mais importantes que os cidadãos que – alegadamente – os partidos e as suas organizações locais representam e acabam preenchendo quase todo o espaço de intervenção e participação no seu interior. Acima desta oligarquia aristocrática, posicionam-se os líderes partidários, aferindo-se o seu sucesso ou insucesso pessoal a partir da sua capacidade de controlo e comando da máquina partidária e do grau de domínio dos sindicatos de voto nos momentos dos sufrágios internos. As competências dos líderes nacionais e locais enquanto controleiros do aparelho tornam-se assim essenciais ao sucesso e daqui depende a sua sobrevivência política a médio e longo prazo, independentemente dos seus padrões éticos, capacidade de trabalho e criatividade e competência para gerir a “Respublica” (“coisa pública”) a qual deveria ser, afinal, o seu objetivo principal.