A história do calcio, parte da cultura festiva dos Médici, foi descurada pela história da arte, que a considerou como uma mera exceção que se confundia com outros tipos de festividade. No entanto, os testemunhos visuais e escritos da época permitem interpretar um fenómeno central no âmbito da vida e da cultura áulica da aristocracia florentina do Renascimento.O texto de Giovanni de’ Bardi, Discorso sopra il Givoco del Calcio Fiorentino, de 1580, constitui um registo fundamental dessa vida onde se destacam, em simultâneo, os aspectos técnicos e virtuosos do jogo, as analogias com a arte da guerra, bem como o seu carácter antigo, oriundo do harpastum romano, combinando a disciplina e a urbanidade com a exaltação laudatória e simbólica do poder dos Médici.As gravuras de Giuseppe Zocchi e de Jacques Callot são o testemunho artístico de duas perspectivas onde, perante a condição de um grande espectáculo lúdico, que cativava o entusiasmo do público e através do qual se exprimia o cerimonial do poder, se imagina a ordem e a desordem, o equilíbrio e as tensões, as formas e o pathos, do tecido social do grão-ducado florentino.