PrefácioQuando morava na roça, observava que o cantar de um galo despertava outro galo, que despertava com seu cantar outro galo e assim sucessivamente, anunciando o alvorecer. João Cabral de Melo Neto (2020:35), no poema Tecendo a manhã, usando a metáfora dos galos, explora significantes que reforçam uma educação em que se propõe construir o processo do saber.
Tecendo a manhãUm galo sozinho não tece uma manhã:ele precisará sempre de outros galos.De um que apanhe esse grito que elee o lance a outro; de um outro galoque apanhe o grito de um galo antese o lance a outro; e de outros galosque com muitos outros galos se cruzemos fios de sol de seus gritos de galo,para que a manhã, desde uma teia tênue,se vá tecendo, entre todos os galos. 2E se encorpando em tela, entre todos,se erguendo tenda, onde entrem todos,se entretendendo para todos, no toldo(a manhã) que plana livre de armação.A manhã, toldo de um tecido tão aéreoque, tecido, se eleva por si: luz balão.
Luz balão é metáfora da liberdade, do livre saber, que se espalham como um balão subindo. A luz-balão da pedagogia precisa ser tecida e cruzada pelo sujeito da escuridão: o balão do significante. Balão luz que entra pelo desconhecimento da noite, abre com seus raios iluminados, o espaço sideral da liberdade, onde cada um dos mestres soltam para o alto os seus balões nos ventos do saber. Semelhantemente à manhã tecida pelo canto dos galos, podendo-se construir saberes inspirados em canções cantadas no despertar das alvoradas, entre aqueles que, desafiados, pela noite e pelos ventos, soltam os seus próprios balões, gritando bem alto, mais alto ainda: viva, viva, viva!