As cantigas trovadorescas, para além de obras de arte, são fascinantes fontes históricas, capaz de revelar aspectos diversos das sociedades que as viram nascer. Neste livro, é discutido o potencial das cantigas satíricas como instrumentos capazes de interferir nas diversas sociedades e circuitos políticos que delas se apropriam. Uma cantiga medieval portuguesa do século XIII é analisada em profundidade, de modo a revelar os diversos sentidos que seus versos adquirem a partir das diversas recepções e releituras que incidiam sobre seus versos. A cantiga, metaforicamente, é comparada a um cavaleiro andante, ou a uma armadura que pode ser vestida por distintos projetos políticos. A mesma canção, desta forma, ora se volta contra setores da nobreza, contra o rei, ou contra o papa, e seus versos adquirem inesperados sentidos conforme seus distintos enunciadores.