“Os adultos necessitam de livros eróticos tal como as crianças de contos de fada”. A citação me ocorreu quando me surpreendi desenhando na mente o rosto e o corpo d Letícia, a protagonista do conto “A Moça no Parque”, que integra essa coletânea de contos de Tito Ryff. E o que é esse conto – que nos remete a Anaïs Nin e ao seu belo livro ”Pequenos Pássaros” – Histórias Eróticas – senão a história de uma fada que cuja mágica é permitir que o homem transponha as fronteiras do prazer? Os contos eróticos assemelham-se, sim, a histórias da carochinha, afinal as fadas são sempre mulheres, entidades fantásticas, belas e inacessíveis, dotadas de poderes sobrenaturais e que nos atraem inapelavelmente.
Por isso, como se fossem histórias de ninar adultos, a literatura erótica permanece vigorosa na pena dos escritores, sempre os desafiando, pois a eles não é dado o direito de ultrapassar a tênue linha que separa o erótico do pornográfico. O erotismo, ainda que lascivo ou devasso, deve trazer consigo o lirismo do amor, que é sua gênese.
Os “Contos Suavemente Eróticos” de Tito Ryff parecem vencer este desafio, jamais transigindo com a linguagem chula e buscando sempre a humanidade no sexo. Mas o leitor deve estar preparado. Nem sempre são tão suaves os contos suavemente eróticos deste livro e por vezes as palavras parecem estar queimando de desejo. E nem sempre são tão eróticos os contos suaves de Tito Ryff, como esse “Descendo o Vidigal” que mais parece um libelo a denunciar que a esperteza sexual do malandro pode ser apenas a outra face da miséria do povo e do seu abandono. Mas, na verdade, são eróticos os contos deste livro e, felizmente, por eles perpassa, a cada frase, a sentença de Anaïs Nin: “a única anormalidade é a incapacidade de amar”. Armando Avena