– Já ouviu falar da ACC? – Perguntou-me Arnoldo, mudando o olhar para indulgente.– Não – respondi.– A Confraria do Crime, ACC? – Insistiu.– Nunca.– E de Jorge Duncan?– Muito menos.A minha desinformação não só o estimulou como o turbinou para o ataque. Espiou para os lados para verificar se não estávamos sendo observados: outro artifício para dar realce à sua pantomima interpretativa. Tudo o que vem de Arnoldo se reveste dessa redundância, dessa bombasticidade, dessa pirotecnia, a personificação de uma ambulância em alta velocidade com a sirene ligada, com o fim óbvio de chamar a atenção para si. O que seria desnecessário, pois sua figura gigantesca, angulosa, sonorizada por uma potente voz cavernosa já dá um relevo natural a essa conformação grotesca.– A Confraria do Crime, ou ACC, como é mais conhecida – vociferou ele –, é a maior organização criminosa secreta do Brasil. Seu fundador e líder, Jorge Duncan, está neste momento em Paris, incógnito.Arnoldo apertou meu braço com suas manoplas ossudas e aproximou o rosto macilento do meu antes de prosseguir:– Attention, mon cher! Veja bem, não vá trair a minha confiança: sou fiel depositário desse sigilo absoluto! Tudo que vou falar para você não pode ultrapassar este recinto… Jamais!
Trecho extraído do Prólogo.
Em A Confraria do Crime – o início de tudo, Curitiba (e por extensão o Brasil) é revelada pelo seu lado mais sombrio, deixando entrever o que nos reserva um futuro não muito distante. Amor, ódio, vingança, violência, primitivismo, conluio, corrupção, eis o emaranhado de ações e sentimentos onde foram lançados os crus personagens dessa distopia que mostra a realidade de uma Curitiba que não tem mais nada de preservacionista, mas que tem tudo a ver com as torpezas que abalam a nação brasileira.Este livro vai deixar você, leitor(a), de cabelo em pé!