“Quando o novelista, a dado passo, contrapõe uma literatura incipiente para dar conta de aventuras como as de um José do Telhado, fá-lo dando ele próprio o exemplo de como um percurso como o do criminoso se pode representar em moldes tipicamente romanescos; ou melhor ainda, em moldes tipicamente camilianos. De facto, a narrativa lê-se como se leria boa porção das novelas de Camilo (por isso, cada história de Memórias do Cárcere convoca aquilo que especifica a ficção camiliana, logo a começar pela presença de um narrador intruso, a comentar e a avaliar o que narra). A título de exemplo, veja-se que o José do Telhado que Camilo nos narra não apresenta senão traços marcadamente heroicos. Heroísmo, coragem, lealdade (ao inverso de José Pequeno), generosidade e até (ou muito em especial) acentuado afeto familiar, eis alguns desses traços de que os outros presos carecem ou não reúnem na totalidade.” (Do Prefácio)