Voz no deserto.* Joào de Deus æ incontestavelmente o nosso primeiro lyrico. Homem que acredita em Deus para nào ser um Joào >Ninguem> que, nas vesperas d’uma epedemia, caiou d’alto abaixo a povoaäào inteira de Messines, e que no remanso d’alma inventou com affecto um methodo racional de leitura para alegria e allivio das creanäas, qual outro mais apaixonado, de maior delicadeza e tào mavioso? Atraz d’elle grasnou por largo espaäo de tempo um rancho de patos n’uma vozeria medonha imitando-lhe a belleza das rimas, e a estructura da phrase. A >Morte de D. Joào> de Guerra Junqueiro produziu de subito um cataclysmo como se se rasgassem as entranhas da terra e uma cratera se abrisse vomitando a lava em rolos de fumo. Todos se julgaram n’esse instante com direito a molharem o pincel nas cðres iriadas de tào esplendida palheta, esboäaram por isso com as mesmas tintas os perniciosos fructos do lupanar, cantaram o mercurio, a copahiba e a syphilis, esfalfaram as pluraes dos adjectivos, evocaram a desditosa Ophelia, obrigaram Christo a marchar em todas as linhas das suas estrophes, e finalmente prenderam a cotovia entre alexandrinos caudalosos com os epithetos mais extravagantes bebidos na leitura da opulenta prosa de Flaubert, Zola, e Daudet